Lana Del Rey Para a ‘L’ Uomo Vogue Itália’
- lanadelreyportugal
- 4 de out. de 2014
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Inspirada pela Geração Beat, usa palavras como se estivesse a pintar. Ela dá corpo à música através de textos poéticos. E conta a sua história como uma espécie de pintura pessoal.
No antebraço direito, os nomes Nabokov e Whitman tatuados, uma homenagem aos dois escritores famosos que, junto com Allen Ginsberb e outros poetas da Geração Beat, são a sua fonte de inspiração, assim como a razão pela qual ela decidiu tornar-se cantora. “Poetas como Ginsberg contam histórias usando as palavras como se fossem uma pintura, combinando uns com os outros e assim criou pinturas extraordinárias. Quando eu senti a possibilidade de alcançar resultados semelhantes na minha carreira, dediquei-me de corpo e alma à música usando palavras e poesia para contar a minha história, criando a minha própria pintura.”
Ultraviolence é o novo álbum, após a explosão de Born To Die. Muitas referências aos imaginários anos 50, com sons e melodias vintage, e letras cheias de mistério. Entre os co-autores, Harmony Korine.
No terraço do Chateau Marmont, Lana Del Rey — nome artístico de Elizabeth Wooldrige Grant, nascida em 1985, cabelos ruivos, vermelhos e brilhantes lábios carnudos, características da elegância de Los Angeles em estilo mexicano, de concurso de beleza em versão vintage — contam com uma mistura inesperada de hilário e profundo. “Se o centro de Hollywood existe, com certeza será o Chateau. Para mim, é um lugar importante, que influenciou muito a estética de muitos dos meus vídeos. Exterminação, expectativa, fantasias, graciosidade, abundância: É tudo isso.”
Ela continuou a falar sobre o seu mais recente álbum, Ultraviolence, um título emprestado de Anthony Burgess, autor do famoso livro Laranja Mecânica, que inspirou o filme cult de Kubrick. “Eu sempre soube que ia escrever um álbum intitulado Ultraviolence, porque eu estava interessada no conceito de ultraviolência, um tema muito atual. O meu encontro com Dan Auerbach, dos The Black Keys (que produziu o álbum), foi seguramente mais um estímulo. O simples facto de que ele estava empenhado no meu trabalho, motivou-me pra compor.”
“Naquele momento eu liguei para o meu amigo Lee Foster — proprietário do Electric Lady Studios, em Nova Iorque — e reservei quatro semanas. Comecei a produzir por minha conta, com o baterista e o guitarrista da minha banda. Então, por acaso, numa noite num clube, eu conheci o Dan, e ele me convenceu a segui-lo até Nashville, onde gravou com uma banda de Brooklyn de sete pessoas. Foi uma experiência realmente incrível; A sua energia tem sido fundamental para o meu processo criativo. Pela primeira vez eu cantei ao vivo, acompanhada pelo grupo; foi um processo muito espontâneo e natural, diferente de todas as minhas experiências anteriores.”
Ultraviolence é uma compilação de músicas autobiográficas em que a Lana explora o tema das relações “tóxicas”, em que a mulher sente-se, muitas vezes, demasiado envolvida emocionalmente para compreender o abuso físico e emocional que sofre pelo companheiro. “Para mim, cada música é uma experiência diferente, com uma narrativa da sua autoria. Às vezes as músicas expressam-se através de baladas, outras vezes de uma atmosfera. Todos os meus álbuns têm uma formação e um caminho próprio. Muitas vezes, para encontrar inspiração eu coloco-me ao volante do meu carro e conduzo ao longo de Los Angeles, de preferência de noite, quando há menos tráfego. Uma das minhas estradas favoritas é Sunset Boulevard, uma serpentina de asfalto que segue exactamente o caminho feito para o gado, no final do século XVIII, que vai do Pueblo Downtown até chegar no Oceano Pacífico. Uma estrada única, charmosa, que tem cheiro de pinho, espirradeira, hibisco e eucalipto redondo, mágico, surreal.”
“Em Ultraviolence eu queria concentrar-me mais no aspecto técnico da música, e explorar o meu interesse na composição. O álbum começa com uma música chamada Cruel World, e em que são 25 segundos de solo de guitarra, que dão o tom do álbum, e onde os locais serão definidos. É o início da viagem, uma viagem pela estrada da memória, que vai do oeste para a costa leste. A faixa número 4, na verdade, é Brooklyn Baby, enquanto a última é um cover de jazz de Nina Simone, uma história à parte. Neste álbum a ordem das canções é muito importante, e o fato de fechar com The Other Woman, dá me a oportunidade de contar a minha história como eu quero, criando ligações entre as várias músicas, combinando com imagens e sentimentos diferentes.”
Entre as paixões musicais, as duas bandas sonoras de filmes mais importantes e Nirvana. “Eu sou uma fã de Nino Rota, Samuel Barber, Thomas Newman e Giorgio Moroder, que se tornou um grande amigo e com quem espero trabalhar no meu próximo álbum. A primeira vez que ouvi Kurt Cobain, tinha 11 anos de idade. Era o homem mais bonito que eu já tinha visto e, mesmo eu sendo uma rapariga, eu “sentia” fisicamente a sua extrema tristeza. Como dizia o filósofo metafísico Josiah Royce: “sem raízes não se pode ter qualquer fruta”, e Kurt com certeza plantou uma semente no meu coração.”
Com as suas canções, Lana quer ser uma fonte de inspiração para as novas gerações. “Eu gostaria de transmitir uma mensagem positiva. Durante estes últimos anos perseguindo os meus devaneios e tentando concretizar a minha paixão, aprendi duas coisas: que tu nunca deves desistir, e que quando enfrentamos dificuldades, fazendo o que amamos, somos mais felizes e mais seguros de nós mesmos.”
Polémica, ela é ainda capaz de chegar ao coração das pessoas. “O meu objectivo é transmitir uma mensagem positiva”, conta. E entre os seus ídolos, menciona Giorgio Moroder, Amy Winehouse, Kurt Cobain.
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