GRAZIA: "Sombras De Uma Rapariga Em Flor"
- lanadelreyportugal
- 9 de jan. de 2015
- 7 min de leitura
Na edição francesa da revista GRAZIA de Dezembro/Janeiro 2015, onde Lana Del Rey foi capa, concedeu uma entrevista e posou para o fotógrafo Thomas Nutzl. Lana recordou o seu 2014, falou sobre o seu último álbum 'Ultraviolence' e sobre o lançamento de um novo álbum. Confere o ensaio fotográfico completo na nossa página de Facebook, clicando aqui.
Em pouco tempo, Lana Del Rey adquiriu uma reputação notável.
Altura para uma rara e exclusiva entrevista, ela relembra os seus momentos de 2014 e fala sobre o futuro, do seu próximo álbum e das armadilhas da fama em tempo do Instagram. Uma estrela discreta.
Existe algo estranho no seu olhar, um brilho que vai diretamente até às suas mãos, torcendo o tecido das suas calças rasgadas no joelho, um ar displicente na forma em que o seu corpo se desenrola, um charme irresoluto que emana dela, a sua tranquilidade, a sua presença. Impossível de dizer o que passa pela sua cabeça quando ela (Lana Del Rey) está a olhar para si.
Ela o encanta como se nada fosse, é óbvio. Mas não é tudo.
Aparece uma hipótese, ao vê-la posar para o fotógrafo da Grazia, graciosa mas determinada, frágil mas segura: Lana é bastante tímida, que habita (ou assombra) o corpo de uma popstar dos anos 2010 e essa dualidade torna-a capaz de tudo.
E é de facto, a única estrela capaz de responder rapidamente ao nosso pedido um pouco louco de se encontrar connosco antes do final do ano. Um pedido feito numa sexta feira através de uma SMS e que resultou, uns dias depois, num encontro numa cidade entre Los Angeles (onde ela vive), Nova Iorque (onde ela habitualmente fica) e Paris. Londres então. Esta é a estranha liberdade desta cantora: a habilidade para controlar a sua carreira e desviá-la se for necessário. Um momento súbito para a (se) questionar e discutir. E deu bastante de si própria, sem objeções, a partir do momento que passou a existir confiança.
O encontro poderia ter durado a noite toda, uma semana, um mês, uma vida. Durante a discussão, Lana irá lembrar-se de um outro encontro, há dois anos, em que nós falámos das suas mãos e das suas unhas, que estavam muito compridas. E agora mostra que estão mais curtas. De seguida desenha palmeiras num livro à sua frente, enquanto ouvimos no seu telemóvel dois projetos de músicas, ela pergunta-nos as nossas datas de nascimento, diz que somos do mesmo signo, fala sobre o escritor americano Joan Didion…
No entanto, apesar de tudo isto, Lana não se revela completamente. Isto é provavelmente o que a faz um paradigma de uma rapariga moderna. Com menos de 30 anos, típico da sua geração (geralmente chamada de X, Y ou Z), ela sabe ser pública e preservar-se, aparecer nas redes sociais e continuar a mesma, cantar a intimidade dos seus amores e continuar (ou pelo menos tentar) esconder a sua vida familiar. A entrevista que se segue, rara, relembra tudo isto, o seu 2014, o lançamento do seu álbum Ultraviolence e o anúncio de outro lançamento para 2015. É a primeira que ela concede após algum tempo.
Como foi o seu ano?
Incomum. Fiz tudo ao contrário: uma tour, de abril a junho, antes de lançar o álbum, e depois nada. Fiquei muito feliz com o álbum 'Ultraviolence'. Mas quando eu o oiço novamente, algumas coisas, ainda que tenha sentido que as devia ter escrito, fazem-me dizer que fui longe demais. Colocaram-me em situações que eu não consegui controlar. Particularmente com os jornalistas, aqueles da Rolling Stone, do The Guardian e todos os outros que me fazem as mesmas perguntas: “Você realmente quer suicidar-se?” “Teve mesmo sexo para conseguir a sua fama?”. Obviamente, escrever músicas como 'Fucked My Way Up To The Top', eu deveria saber que essas perguntas iriam aparecer e que eu deveria respondê-las mantendo alguma distância, apenas dizer não e seguir em frente.
Como está você atualmente?
Tenho receio que este álbum se perca, que seja esquecido. Tenho sempre medo que coisas boas sejam esquecidas... Musicalmente, estou à procura de algo diferente, coros majestosos, refrões, orquestrações, uma atmosfera que evoque os anos 50 com um ligeiro toque de soft grunge. Desde o último mês de março, comecei a escrever de uma forma mais clássica, mais convencional – versos, coros, com uma influência da grande época do jazz. É muito divertido misturar isto tudo. E no próximo ano, vou fazer uma tour nos Estados Unidos. Fiz isso uma vez e tocou-me muito, especialmente em cidades como Detroit, onde eu senti a importância da História… Eu vou fazê-lo de novo, mas desta vez com a Courtney Love, de maio a junho. Quanto ao meu ao meu novo álbum, deve ser lançado em meados de Agosto.
Quanto à sua escrita. Vai mudar neste álbum?
Ela ainda é fiel à minha personalidade, ao meu estado de espírito, mas agora estou a tentar algo mais surreal, mais colorido. Agora sinto-me mais inspirada por artistas do que escritores –como Mark Ryden, mas também Fellini ou Picasso. Estou obcecada por este documentário, 'Fellini: Je suis un grand menteur', que explica que este cineasta estava farto da sua cidade e que cada um dos seus filmes apresentava uma faceta dessa mesma cidade. Gosto da ideia de dizer que não devemos deixar a verdade ficar no caminho de uma boa mensagem…(Sorri) E que nós podemos reinventar o nosso passado.
Algumas das suas canções evocam de facto a era dos grandes estúdios dos anos 50, cantores rodeados por uma orquestra à noite…
Sim, eu adoro isso, esses ambientes noturnos. É por essa razão que eu me encontrei com Mark Ronson: fi-lo escutar dez músicas que compus para este próximo álbum. Nem tanto para que ele coloque a sua assinatura habitual, soul e funk, mas sim para que ele explore um som próximo da grande época do jazz… Eu não estive lá nos anos 50 mas eu sinto como se tivesse estado. E depois, quando eu estava a viver em Nova Iorque, tinha este sonho idealizado, compartilhado com algumas raparigas, sem qualquer dúvida: ter uma residência num clube onde cantaria alguns clássicos mas também algumas músicas minhas. Também tinha uma visão romântica de como era a vida de uma cantora. Sonhei com a possibilidade de fazer uma tour pela Europa como Chet Baker fez, por exemplo.
Um tipo de história dramática, não? O drama atraia?
Não é o drama que me atrai. Eu “entrei no jogo” sem qualquer drama em mim. Mas de repente, as situações foram pesadas.
Você fala muito sobre os anos 50. Não é estranho sentir-se nostálgica por um período que nunca conheceu?
Sim, e é por isso que tenho poucos amigos – apenas aqueles que se sentem ligados ao passado e ao futuro simultaneamente, como eu. E não somos muitos. É por essa razão que sou amiga do James Franco: uma das poucas pessoas que realmente sinto que é ligada aos atores do passado, à Califórnia dos anos 60, à Nova Iorque dos anos 70.
Você cresceu numa cidade pequena, nas proximidades de Adirondacks. Tem saudades do lugar da sua infância?
Sim… A minha casa está cheia de memórias, é difícil voltar… Eu voltei lá há duas semanas atrás, fiz a viagem desde Nova Iorque pela primeira vez em quatro anos. O meu quarto não mudou, estão lá os mesmos posters, apesar de tudo me parecer mais pequeno.
Você regravou um clássico já interpretado pela Nina Simone, The Other Woman, que fala de um triângulo amoroso. Mas você cantou sem ninguém saber que ponto de vista você adotou. Quem é você: a mulher enganada, a amante escondida ou até mesmo o marido?
Sempre quis interpretar aquela música, conheço-a há anos. É interessante observar a sua ambiguidade… (ela canta a música no microfone.) Eu acho que sempre me vi como a outra mulher,(The Other Woman), sinto-me sempre como a outra. Eu não quero estar à periferia das coisas mas eu estou, de facto. Eu situo-me fora dos círculos. Mesmo nas minhas relações amorosas, geralmente sinto-me por fora do que acontece. Dito isto, interpretei o papel da mulher normal, da esposa legítima.
Sente-se como uma espetadora na sua vida?
Cada vez mais. Com a internet, quando estás com outras pessoas, a situação mudou: as pessoas já não estão contigo apenas quando estão no mesmo lugar, elas estão com aquilo que sabem de ti, do que leram, viram ou ouviram sobre ti. Isto é óbvio quando me encontro com alguém pela primeira vez.
Você ainda é fiel?
Eu quero ser e ainda sou no meu coração. Se eu encontrar alguém que ame, irei amá-lo provavelmente para sempre. Eu sou fiel, emocionalmente. Eu dou a minha confiança, mas com cuidado porque eu vejo imediatamente “bandeiras vermelhas” assim que conheço alguém novo. Basicamente, eu gosto de pessoas que têm um humor constante, que não mudam de personalidade subitamente. Eu não preciso de mais surpresas na minha vida.
Você é muito controladora?
Não, nem por isso… Ok, sim, sou controladora. (Ela ri.) Quando eu tenho um som ou uma “atmosfera” em mente, mesmo para uma música muito simples, luto por ela para conseguir exatamente o que quero. Sendo assim, o risco é não seguir o meu "humor" e acabar em algo já feito, de “reinventar a roda”. E isso não me interessa.
Já se sentiu sobrecarregada pelo seu perfeccionismo?
O tempo todo. Durante a tour, por exemplo. É doloroso repetir as músicas todas as noites.
Já quis parar tudo, e recomeçar do zero?
Sim, muitas vezes. Mas não posso, sou famosa.
A fama é para si um fardo?
A fama torna tudo mais complicado do que costumava ser. À parte da minha relação pessoal com a minha família (irmão, irmã e pais), toda a minha existência a partir disso é pública. Até mesmo os meus telefonemas, eu não tenho a certeza se eles não são ouvidos. Não têm ideia do que poderiam roubar de mim… Basicamente, tirando minha complexa imaginação e mente, não resta mais nada de muito íntimo (ela ri, por um instante). Eu sou tímida de natureza, até patologicamente tímida, e a fama não ajuda. Eu gosto de jantar fora, mas isso tornou-se impossível. Todos têm um telemóvel, uma câmera… É estranho dizê-lo mas é o meu quotidiano: tiram fotos de mim até mesmo quando vou comprar uma aspirina. Eu deveria saber que isto iria acontecer, é claro. Mas é verdade que quando eu comecei aos 20 anos, o mundo era diferente. É difícil ficar tranquila hoje em dia. Eu não sofro com isso, mas tenho de ter cuidado. Há muitas pessoas estranhas por aí. (Ela ri outra vez.) Eu sou cautelosa, eu nado com cuidado em águas novas.
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