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ELLE MAGAZINE: "SONHO CALIFORNIANO"


Hoje, (16/05), foi lançada a edição de junho da revista ELLE. A Lana foi entrevistada pela revista, e foi capa da mesma. Na entrevista, a Lana falou do que procura numa relação, falou do seu passado, falou de duas músicas, 'God Bless America' e 'Yosemite'do seu novo álbum, ainda sem data, 'Lust For Life'. Confere a tradução da entrevista na íntegra.

 

Será que Lana Del Rey vive mesmo no meio da letra H do letreiro de Hollywood and passa a maioria das suas noites empoleirada acima do caos que anda à volta da cidade dos anjos, como sugere o teaser para o seu novo álbum, ‘Lust For Life’?

Ou será que ela aluga uma casa em Santa Monica ou Silver Lake ou outro lugar qualquer que ela não divulga, no caso de que, como escreveu um tweet críptico em fevereiro, alguns dos seus 6.3 milhões de seguidores bem-intencionados apareçam à porta da sua casa com os “ingredientes mágicos” para lançar feitiços ao presidente Trump?


Será que ela realmente apenas molha os seus dedos na lama da cidade de vez em quando, como diz no trailer do álbum? Ou será que ela sai muitas vezes, como ela me disse quando nos conhecemos, e passa as noites a divertir-se com alguns amigos, principalmente músicos, a dançar nas suas festas, indo a concertos e ocasionalmente lutar pelo microfone com os seus amigos para cantar ‘Hotel California’ em bares de karaoke? Neste mundo pós-verdade, sente-se pedante para se preocupar muito de qualquer maneira.



A ‘verdadeira’ Lana Del Rey é uma mulher de 31 anos chamada Elizabeth Woolridge Grant, nascida em Lake Placid, New York. Ela é muito próxima da sua irmã Chuck, uma fotógrafa, mas menos aos seus pais, Patricia e Robert, e o seu irmão mais novo, Charlie. Eles são uma família de individualistas, diz-me ela: ‘Era natural que nós seguíssemos caminhos diferentes, e nós mantemo-nos aí’.

Estamos sentados perto de um outro num sofá num estúdio em Los Angeles onde ela tem estado a criar o seu trabalho mais musicalmente realizado, o mencionado álbum, ‘Lust For Life’, que está destinado a ser o som deste verão. Lana está completamente presente, inteligente, engraçada e capaz de se rir de si própria. Ela usa calças de ganga e uma t-shirt vintage e ela fala suavemente, mas com uma certeza atraente.



Eu gosto mais dela pelo facto que o dia a dia não nega a sua magia que ela exala enquanto performer. Para os seus fãs, a Lana existe num cintilante Super 8; a rapariga maníaca sonhadora que não vem com bagagem nem dias maus, que está aqui apenas para ti numa fantasia filtrada por Valencia. Ela é uma ideia de mulher que não cresceu em lado nenhum, mas emergiu formada pelo elevador do hotel Chateau Marmont. Ela é uma montagem de American, acabada com uma risca de eyeliner preto.



Ambas a realidade e a fantasia de Lana Del Rey fazem um bem formado, embora excecional, ser humano. Mas, como a Lana me diz, habitar estes dois mundos não tem sempre sido fácil: ‘Eu sei que se eu tinha uma persona antes [quando ela lançou o seu hit, Video Games] eu tenho menos agora. Eu acho que tem a ver com ficar um bocadinho mais velha. Talvez eu precisasse de um visual mais forte ou algo para me apoiar [antes]. Mas não seria difícil para mim, hoje, tocar num grande espetáculo em calças de ganga sem ensaiar e ainda sentir como se estivesse a vir de um lugar correto.’



Eu sugiro que o escrutínio pelo qual a Lana passou pelos média por ter uma persona melancólica foi injusto. Toda a gente, seja como for, apresenta um lado diferente deles próprios no trabalho, certo? E, ela dificilmente é a primeira artista a mudar o seu nome ou a cultivar um visual distinto para o palco. Ainda assim, incontáveis teorias da conspiração questionaram a sua aparência, talento, e histórico familiar quando o seu segundo álbum, ‘Born To Die’, foi lançado em 2012. Mas a Lana é notavelmente compreensiva.



Vendo bem agora, eu percebo o que eles estavam a dizer. Quando eu estava no meio de muitas revisões e críticas, eu estava meio que, ‘O quê? Eu arranjo o meu cabelo, a minha maquilhagem como toda a gente, para as fotografias e para os meus espetáculos, e sim, as minhas músicas são melancólicas mas são como as de toda a gente.’ Então, ver algumas artistas femininas não terem tantas críticas fez-me pensar, ‘O que é que eu tenho?’



Em retrospetiva, diz, ela entende o porquê da crítica e intriga sobre a autenticidade dela como artista: “Eu acho que tem a ver com energia, eu realmente acho. Não era abertamente dizer ‘Eu sou triste’ ou ‘Eu estou a ter problemas’ na minha música, mas eu acho que talvez as pessoas apanharam isso e estavam a dizer, ‘Se vais lançar músicas assim é melhor preocupares-te com isso.’ Mas eu realmente não acho que sabia como me sentia. E depois quando as coisas se tornaram um bocado maiores com a música, eu ainda estava a descobrir o que era importante para mim.



Eu sinto que ela esteve estes últimos anos ela esteve a descobrir, como tantos de nós agora nos seus 30 anos provavelmente fizemos. A diferença com a Lana, claro, é que todas as suas tentativas, erros e arrependimentos foram forrados para consumo público. Eu menciono aquele sentimento embaraçoso quando eu dou com um velho diário ou com uma publicação no Facebook que parece que foi escrita por uma pessoa totalmente diferente do que sou agora. Eu pergunto se ela se consegue relacionar.



Isso aplica-se a mim,” diz ela. “Eu tenho alguns momentos embaraçosos. Certas coisas que eu disse e músicas que eu fiz, mas principalmente aquelas que foram vazadas… Quer dizer, elas não são das melhores.



Ela está a falar sobre o seu computador ser hackeado em 2010, quando centenas de músicas inacabadas foram lançadas online, sem a sua permissão. Foi uma horrível invasão da sua privacidade, e isso leva a uma discussão sobre vulnerabilidade, embora curiosamente, não é uma palavra que ela diga que alguma vez se aplicou a si mesma.



Eu pergunto-lhe sobre o que é que cantar em palcos tira dela emocionalmente e o que é que ela ganha com isso, os seus espetáculos de anfiteatro normalmente têm 24,000 lugares disponíveis. Ela fixa-me com um olhar nada vulnerável e diz, “Bem, depende do dia. Se estou a ter um bom dia, ainda é preiso muito, mas a maior parte é física. Eu tento ganhar força e cantar do meu núcleo, então eu tenho de realmente me sentir bem e ter dormido bem. Claro, também ajuda se a minha vida pessoal estiver assim; quando estás no palco durante 1h40, tu pensas enquanto cantas. Eu não gosto que os meus pensamentos sejam inquietos ou preocupados, para eu me focar na multidão.”



Depois de um espetáculo, ela sente reflexiva e precisa de tempo para o processar, “Não é como se tu o fizesses e não tivesse acontecido; é uma experiência real. Eu conheço bandas de rock que dizem que amam isso pra caralho que eram capazes de o fazer todas as noites e que não fariam outra coisa. Eu não sei se é uma experiência tão emocional para eles [como é para mim].”



Voltando a essa necessidade de sentir-se bem e ter uma vida pessoal igualmente boa, a Lana viveu tanto em Nova Iorque como em Londres, mas diz que Los Angeles está a começar a sentir-se como casa, e isso é uma grande parte do que está a fazê-la feliz agora. “Eu estou a crescer as minhas raízes e a conhecer bastantes outros amigos, então eu estou a começar a sentir-me mais estabelecida.” No seu tempo livre, ela adora nadar no oceano. “Eu tenho um amigo chamado Ron que gosta de nadar comigo. Então, de vez em quando, encontramos uma praia vazia, saltamos e nadamos pelo comprimento da costa, de um lado da baía para o outro.”



Os seus amigos são a sua família, diz a Lana, e isso é a razão pela qual ela não consegue aceitar nada menos do que toda a honestidade e verdade por parte deles: “O facto é que agora eu sei tudo de forma mais clara. O que é interessante é o quão inseguros nós nos sentiríamos entre nós se não fossemos capazes de expressar como nos sentimos. É difícil saber que se tu dizes a alguém exatamente como te sentes, se te sentes feliz ou infeliz, isso pode ser o fim da relação porque eles não se sentem da mesma forma.”



Nós falámos sobre o grupo que escolhes durante a tua vida e concordamos que, nos teus 30, tu estás muito melhor em envolver-te com pessoas que te fazem sentir bem. “Quando estás nos teus 30, tu deixas este elenco de personagens [entrar na tua vida], especialmente se estiveres nas artes,” diz ela. “Não importa o que eles pensam que era importante. Mas, ao passar dos anos, eu vi coisas nas pessoas que eu não gostei



A Lana está a disfrutar fazer parte da cena da música em LA onde os seus amigos incluem a fotógrafa Emma Tillman (também mulher do cantor-compositor Father John Misty), Zach Dawes, que foi baixista no supergrupo britânico ‘The Last Shadow Puppets’, e os músicos Jonathan Wilson e Cam Avery.



Eles tocam juntos, algo que ela não fazia com amigos antes. A primeira vez que ela jantou com esse grupo, ela pensou, “Uau, isto é fantástico.” Ela diz-me: “Sentir-se parte de algo é definitivamente um sentimento bom.” A desvantagem de sair com um grupo de músicos é que o karaoke se torna um desporto competitivo. “Se eu estou com eles, eles estão sempre no microfone e algumas vezes é difícil tira-los das mãos deles. Toda a gente faz de conta que não importa, mas tu podes definitivamente ver que há momentos nos refrões que as pessoas estão mesmo a cantar.



Nós rimos e eu sinto-me prazeroso que eu estou a conhecer a Lana num período da sua vida, como ela diz: “Todas as coisas difíceis pelas quais passei – que eu usei [no meu trabalho] – não existem mais. Nem todas as minhas relações amorosas foram más, mas algumas delas desafiaram-me de uma forma que eu não queria ser desafiada, e eu estou feliz que não preciso de fazer isso agora."



Eu não quero estragar-lhe nada, mas eu pergunto se ela sente que, quando admite que está feliz, algo mau poderá estar prestes a acontecer. “Sim, algumas vezes. Eu tenho um bocado desse sentimento, é uma coisa humana de se fazer. Algumas vezes eu digo aos meus amigos, ‘Eu não quero agourar’. Ou se eu estou ao telefone estou tipo, ‘Estou tão entusiasmada quanto a isto’, e depois esperar por aquela chamada no outro dia…, mas não existe nada como agourar as coisas. Apenas deixa acontecer.”



A chave para a felicidade é perguntares a ti próprio o que é que te fará feliz. Eu tento não fazer algo que não me fará feliz mesmo se for um espetáculo num sitio que eu não ache apropriado. É tão simples: eu costumava perguntar a mim própria isso, mas nunca ouvia a resposta porque eu provavelmente sabia que iria fazê-lo de qualquer forma. Se alguém realmente precisasse que eu fizesse alguma coisa, eu provavelmente diria, ‘OK!’”



Eu pergunto-me se nós enfatizamos demais o estarmos felizes e isso causa stress e ansiedade, mas a Lana passionalmente descorda: “Não! Eu acho que a felicidade é o derradeiro objetivo da vida, eu acho que é a única coisa que importa. Não existem mecanismos para chegares à felicidade, essa é a merda do problema. Eu acho que as pessoas estão infelizes na escola – a estrutura educacional tem sido a mesma durante muito tempo e os miúdos ainda não estão satisfeitos, em todo o mundo, com a sua experiência educacional. E tu não tens conversas suficientes, quando és novo, sobre o que é que é preciso para uma relação satisfatória. Essas experiências vivenciais coletivas – a tua juventude, a tua educação académica e a tua educação sobre o casamento ou objetivos de relações, são o que levam à felicidade. Eu acho que a ênfase está nas coisas erradas, e tem isso assim durante muito tempo.”



A Lana diz-me que está mais envolvida socialmente do que nunca; o seu quinto álbum é uma mistura de introspeção pessoal e hinos de ‘olhar para fora de si mesmo, para o mundo’, como ‘God Bless America’, no qual ela canta: “God bless America and all the beautiful women in it.” Ela diz que, com este álbum, ela estava à procura de um sentimento de que nós estamos nisto juntos: “Eu acho que seria estranho fazer um álbum durante os últimos 18 meses e não comentar a forma como a política está a afetar-me e as pessoas que eu conheço.”



Nós discutimos o facto de que estamos a ser constantemente bombardeados com notícias e outros pontos de vista no nosso mundo interconectado, e eu pergunto como é que ela reconcilia o seu bem-estar pessoal com o sentimento coletivo de que estamos todos a ir para o inferno num carrinho de mão.



Eu acho que é uma balança, eu realmente acho. Tu és tão sortudo se és saudável e muita energia porque é necessário muito para se ser um humano responsável. Responsável para ti mesmo, responsável para os outros, e saber quando não se deve cair no buraco interminável de notícias. Na minha vida, é como andar numa corda bamba. Eu leio as notícias, mas não as leio antes de ir para cama; eu não as leio quando acordo e não as leio entre as minhas sessões no estúdio. Eu tenho algum tempo livre onde eu as leio e me mantenho informada de tudo, mas eu mantenho as minhas coisas sagradas, sagradas.



E quanto ao teu hino para as mulheres da América? “Eu escrevi ‘God Bless America’ antes da marcha das mulheres ter acontecido, mas eu podia dizer que elas iam acontecer. Quando as eleições acabaram, eu sabia que iria acontecer. As pessoas estavam muito mais vocais e mais ativas nas redes sociais e na vida real, então eu apercebi-me de que muitas mulheres estavam a dizer me voz altas que precisavam de apoio e estavam nervosas sobre algumas contas que poderiam diretamente afetá-las. Então sim, é uma resposta direta em antecipação ao que eu pensei que ia acontecer, e ao que aconteceu.”


Prever a marcha das mulheres deve ter a ver com um grande inteligente e social instinto, ou algum tipo de feitiçaria diretamente vindo do seu outro mundo do trailer de ‘Lust For Life’. O que quer que penses, não podes negar as batidas ao longo do novo álbum da Lana, desde a sua colaboração pop com o The Weeknd na faixa-título ao dueto melancólico com o filho do John Lennon, Sean, e a minha favorita, ‘Yosemite’, uma linda música sobre a forma pela qual as relações mudam ao longo do tempo.



Depois dela me tocar esta música na mesma sala onde foi gravada, eu não consigo não perguntar à Lana como é que ela é como namorada. “Eu sou fantástica. Sou a melhor,” ela brinca, antes de clarificar, “Eu realmente sou a melhor namorada porque eu só começo alguma relação se eu estiver mesmo entusiasmada quanto a ela. Eu estou incondicionalmente compreensiva, muito amorosa e gosto de estar com aquela pessoa durante muito tempo.” Depois de ouvir o refrão da ‘Yosemite’ que ela já não é uma “candle in the wind”, o que quer dizer que ela encontrou uma luz estável na sua vida, eu pergunto-me se o que ela procura numa relação também mudou. “Para mim, o sonho é ter algum tipo de sexualidade, magnetismo, camaradagem, estar na mesma página e tudo isso, mas sem a parte que vem de uma pessoa realmente egoísta e que só se interessa pelas suas próprias necessidades, o que é uma coisa que típica de vocalistas se estivermos a falar de músicos!” (A Lana já namorou com o vocalista da banda Kassidy, Barie-James O’Neill.) “Eu vou escrever um livro, um dia, chamado, ‘A maldição do vocalista e a razão pela qual tu deverias namorar com o baixista.’”



A Lana sorri, toma um gole do seu café gelado, e diz: “Eu acho que tenho um bocado de uma fantasia que relações fantásticas, amizades, e romances podem resistir ao teste do tempo. Mesmo que cada pessoa na relação ou grupo mude, elas não mudam numa forma que pudesse acabar com a relação.”



O refrão [da ‘Yosemite’] é sobre fazer coisas apenas por diversão, gratuitamente, e fazê-las pelas razões certas. É sobre ter integridade artística; não fazer coisas apenas porque achas que vão ser grandes, mas por causa da mensagem ser algo importante. E depois, é sobre estar com alguém porque não consegues ver a tua vida sem essa pessoa, não porque seria 'beneficial' para ti estar na sua companhia. É esse conceito de estar numa relação pelas razões certas a 100%. Ser uma boa pessoa, basicamente.”



A Lana Del Rey é mercurial – mesmo quando tu achas que chegaste a ela, ela foge-te pelos dedos como areia movediça – mas nesses meros segundos, eu acho que a consigo ver claramente: uma artista que está a erguer-se desde a ambiguidade da juventude e a emergir numa mulher com uma visão autêntica da sua vida e da sua arte. Sim, isso poderá um dia esvanecer como a tatuagem ‘Chateau Marmont’ no seu pulso esquerdo que quase não está lá, mas agora o seu poder está num foco afiado e não filtrado.


O quinto álbum da Lana Del Rey, ‘Lust For Life’, irá ser lançado em breve.

 

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: LANA DEL REY: PORTUGAL

TEXTO ORIGINAL: DAZED AND CONFUSED MAGAZINE


ASSISTE AO VIDEOCLIPE DE LUST FOR LIFE

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